9.2.10

A gentil arte da desistência

Normalmente, quando fazemos as nossas preces, pedimos força. Força para ir em frente, força para superar obstáculos, alcançar objetivos.
Hoje eu me peguei rezando para obter forças para desistir.
Paradoxo? O que eu quis dizer, principalmente para mim mesma, é que não é hora de ser forte. Calma, isso não é mais um instinto suicida ou tem a ver com se fazer ausente. Digo, desistir de algo que já não te acrescenta mais em nada, senão na dor, na preocupação, na inquietude, mas que já é tão seu que é difícil abrir mão. Como aquela calça jeans surrada da Lee que não te serve mais como servia há 10 anos atrás, mas você insiste em tê-la no guarda-roupa ou pior, no couro. Como um pote de sorvete Kibon que você insiste em guardar mesmo tendo 65456 iguais a ele e que você não usa.
Dar murros em ponta de faca não é uma sensação muito agradável. Fazer com que o andamento das situações compreenda sem muita força o que se sente no momento, também não. Há quem diga que não se deve interferir na fluência, no vai e vem do mundo, mas se essa teoria estiver correta, não há necessidade de se viver cercado de pessoas e ideais e crenças e algo mais que valha. Mostrar o que é importante, mostrar o que acontece, como se sente, o curso da vida, os sentimentos - seja quais forem, é intrinsecamente humano e talvez por isso, um tanto necessário. E dito isso, eu entro no ponto que eu queria.
Vou desistir porque cansei de esperar que tudo mude por eu achar estar sempre fazendo as coisas certas, as escolhas certas, por mais que fatores externos tentem me dissuadir dos meus objetivos. Na verdade, quero desistir dos fatores externos que tentam me dissuadir. Fazendo um retrospecto, na época em que eu estava na míngua, eu era bem mais produtiva, intelectualmente falando. Eu tinha até as unhas mais bem feitas que hoje, embora estivesse mais de 2 dúzias de quilos mais gorda. E eu que achava que aquela era a época mais desgraçada da minha vida, hoje, cercada de tudo e de todos, começo a duvidar disso.
Vou desistir porque gasto tempo, afeto, dedicação e nada do que é explicitamente certo em uma visão generalizada, insiste em dar certo para mim. Não gosto de aguentar nem dor de cabeça. Estou tomando anticoncepcional para suspender a minha menstruação até passar o carnaval, porque só de pensar na combinação xixi+banheiro público, sinto náusea. Detesto sofrer, seja uma decepção, ou uma dor de barriga. Me entupo de remédio para fazer passar. Ou seja, não sou masoquista, detesto sofrimento, privação de prazer. Mas, sem saber por quê nem como, estou nessa. Então, eu desisto.
São 2 da manhã, e eu insisto em não parar de chorar. É claro, há muita coisa errada. E se eu pudesse dar um nome a essa coisa errada, aqui, eu juro, desistiria na frente de todos. Mas, desistir é uma ciência, e eu peço paciência e força. Apesar de ser uma palavra um tanto pesada e cheia de sobrecarga emocional, às vezes, desistir é preciso tanto quanto viver. E embora eu diga que eu preciso de fraqueza, acho que a desistência é uma tarefa que exige muita força. Vou continuar rezando, enquanto não contrario meu ego. Porque fraqueza seria voltar atrás. De novo.