29.7.10

Uma carta.


Eu juro que não queria fazer isso. Eu queria seguir seu  conselho e não te procurar mais. Mas eu não consigo, não reconhecendo que o erro foi meu, não, essa não sou eu.

Na verdade, o lance é bem simples. Eu não estou esperando que você me procure, sinceramente, imagino a raiva que você está sentindo de mim. Nem estou aqui pra pedir “por favor, volte”, não, também não. Eu só quero que na minha passagem eu tenha pelo menos paz de espírito, afinal, é mais um ano de vida que completo. E paz é a única coisa que não consigo ter agora.

Não estou afim de desabafar, explicar, ou me desabar em lágrimas e promessas como das outras vezes. O que aconteceu, aconteceu, “o que passou, calou”, como você costuma me dizer sempre que acontece esse tipo de coisa. Para você é fácil depurar, pois está com raiva; Mas eu estou angustiada, e essa angústia está atrapalhando alguns processos em minha saúde, como insônia, taquicardia, vômitos e a menstruação que não desce há 3 dias. Também não estou pedindo para que você se preocupe comigo, eu só estou obedecendo um instinto meu de defesa, e querer estar a par da situação não é de todo ruim, não acho que seja. Só peço que você seja verdadeiro conosco, e isso eu não te peço como namorada, ou como alguém que te ama, mas apenas como ser humano.

Lembro que você me pediu para ter dignidade. Essa é a forma que eu sei ser digna e mostrar meu amor próprio. Se eu disser que vai ficar tudo ótimo sem ter você nesse momento, eu estarei mentindo amargamente e para mim mesma. Não por causa de festa nem de presentes, nós dois sabemos que meu desânimo para qualquer comemoração não vem de agora. Só queria que você me dissesse se irá ficar tudo bem, se não vai. Respeitarei o seu tempo, isso está óbvio.

Seu livro está aqui, no mesmo lugar que deixei. A cabeça quente não deixou que eu o visse. E o HD foi sem o cabo, que está aqui também. Também estão suas duas calças sociais e as gravatas, além da camisa azul. Se precisar de algum desses para amanhã, posso levar sem problemas aí em sua casa. Ou você pode vir buscar, tanto faz.


Continuo, inexplicavelmente, te querendo como da primeira vez que te vi.
Att.,
M.

17.7.10

Oh, Insensato Coração!

Tenho andado sumida e um tanto confusa. Um decorrente do outro, inclusive.
A minha confusão tem gerado reações somáticas de cunho angustiante. Não durmo, não faço nada. Digo, faço sim. Trabalho para esquecer. Sempre olhando para os lados.
Daria alguns dólares para imaginar o que se passa em meu coração. No mesmo momento que treme de amor, ronca de ódio e pede mudanças. Mas basta uma única lembrança boa, ou um gesto de ternura em meio à fuligem que ele volta a bater compassado em lento, calmo, o que os românticos chamam de "coração de quem ama". Mas o corpo pede bis daquela adrenalina de quem inicia uma linda e inesquecível (nova) história.
Lidar com as pessoas, na verdade, não deveria significar necessariamente lidar com os problemas das pessoas. Você pede antes de dormir durante anos o devir de um sonho, o sonho de ter alguém que se cuide e ser cuidado. Só que esse alguém, como um filho ou um cachorro, não vem com certificado de Garantia na testa, então... não há garantia nenhuma, somente o sonho. Não mais que de repente, o indivíduo se enxerga engolindo todos os sapos do Universo em nome do tão sonhado, invejado e, literalmente, caçado, amor. E um belo dia se vê cansado de guerra, quando olha para o lado e o que passaria despercebido de repente se torna interessante. É como um sinal Divino dizendo que é melhor rever, porque não vai tudo tão bem assim.
Estou passando por essa fase, uma fase onde a razão e a emoção se misturam como água e suco em pó. Percebe-se a artificialidade, mas é doce a impressão de transgredir e trocar a maçã por um saquinho colorido. E existe sempre os grãozinhos no fundo do copo para não fazer esquecer que é artificial. Que é uma fase, talvez, porque não há quem abra mão de um sentimento, salvo quando ele não mais existe, o que não é raro e não é o caso, caso contrário, não vacilaria nem angustiaria tanto minha alma por uma tentação, simplesmente me deixaria levar na leviandade.
Pode ser a aurora de um novo tempo. Ou, como diz o poeta, "porque de amor, para entender, é preciso amar". E nessa matéria sinto que não completei ainda nem o fundamental.










(Na verdade, o título deveria ser uma alusão a outra música imortalizada na voz de Gal que diz "Meu coração vagabundo quer guardar o mundo em mim").