11.5.11

Eu sei, eu vi.

e vi que você conversou com ela, no dia que me apareceu aqui bêbado, desesperado por me ver e estar comigo, como se tivesse cometido crime hediondo e inafiançável.

Eu assumo.

Li também que ela estará aqui no feriado de Corpus Christi.
Olhe lá.

28.4.11

Madrugadas Criativas

É sol, é mar, é calor. Na verdade, é madrugada. Sinto o calor das costas largas dele em minhas costas e penso que, finalmente, há de ficar tudo bem, porque naquele calor, misturado ao frio de um ventilador velho e um peculiar odor de repelente, pude sentir novamente aquele amor, aquele amor que um dia me levou a sonhar como num sussurro adolescente.
É madrugada e eu penso que esse calor é na verdade uma das mais deliciosas sensações do universo. Às vezes sinto vontade de acordá-lo pra que possamos brincar em meio a tudo isso, mas adoro vê-lo dormir nessa paz. Penso em me encostar mas, se eu incomodar, ele pode mudar de posição e eu não mais sentir essa sensação gostosa. Fico igual a uma boba, admirando seu sono de urso, com vontade de me jogar por completo, mas impedida por um certo cansaço de coisas boas, que me faz respeitar e querer ser respeitada em meu ostracismo. Bobagem, gostoso mesmo é admirar e sentir e é o que eu escolhi fazer agora.
É madrugada e tudo que eu mais quero é que o dia não amanheça, aproximando de nós o dia de ir embora dessa paz. Tão poucos dias suficientes para sanar todas as dúvidas que eu tinha em meu coração, suficientes para fazer-me sentir calma tão somente pela proximidade das costas largas dele, o homem que eu amo, me trazendo calor e refúgio numa madrugada qualquer de domingo. Ah, se todas as minhas madrugadas fossem assim, refugiosas, sãs, e com ele. Pra que pensar no futuro, se o gostoso é viver o agora? Se eu pudesse, não sairíamos mais daqui, traríamos nossos paninhos de bunda e nossos vinhos, e ficaríamos aqui, olhando um pro outro e falando da nossa vida e da dos outros. Minha paz, minha voz! Nós, nossos amigos, sem mais medos, sem mais ciúmes, só a nossa paz. Ah, se Deus me ouvisse agora, me ouve, Deus. Livra-nos do mal.
Ouço um sorriso em meio ao seu sono e penso que ele poderia estar sonhando com algo bom. Peço para que seja comigo, diminuindo minha injustiça, de estar ali acordada e devota enquanto ele se entrega ao profundo sono. Depois deixo o ciúme pra lá, ele se vira e me abraça, aí, o mundo pode acabar.
É madrugada e eu tenho o homem que eu amo a me abraçar.



Itaparica/Praia de Coroa
Domingo de Páscoa, 24/04/2011

4.4.11

O Leão.

De vez em quando, um Leão bate à minha porta.
Lembro-me com clareza da primeira vez que ele veio. Uma juba, imensa, espetacular, linda e extremamente ameaçadora. Além da juba, palavras que fariam de qualquer mulher, uma leoa. Sim, esse leão fala, fala encantadoramente, fala como se quisesse levar-te cega para um mundo que é o dele, um mundo desconhecido mas que você aceita o desafio e, se for puxada, vai, sem dar notícias de onde poderá ser encontrada.
Ele me abençoava e me falava de paz e de amor.
E ele me disse que queria conhecer meu mundo, a terra onde vivia e como eu vivia nela, pois ele vinha de um lugar distante...
Vinha falando a minha Língua com destreza.
Era doce...
Ameaçadoramente doce.
E eu...
Eu desconfiei do Leão.
Sempre desconfio de tudo.
Mas ele foi vindo. Sabia que eu era leoa.
Me tirava o ar só o pensar nele.
Profeta, ele se dizia.
Eu o chamava simplesmente de Leão.
Ele nunca quis saber muitos detalhes da minha vida.
Queria uma impressão geral da minha visão de mundo, a mim, bastava a ele que eu fosse somente uma pessoa boa.
O Leão, ao tempo em que queria me enfeitiçar para o mundo dele, me vinha com perguntas corriqueiras quando aparecia. Às vezes demorava a aparecer; de outras, vinha varias vezes por semana, muitas das quais eu deixei de atender à porta por estar atarefada em meio as minhas vicissitudes, mas sempre deixava o rastro da presença dele ali, bem perto, para que eu me lembrasse, e mandasse o sinal para que ele viesse trazer um pouco de mistério em minha vida.
Sempre funcionou.
E o mistério chegava no momento em que eu sempre precisava.
Um belo dia, olhei pela janela do Leão, numa dessas ironias da vida. Queria saber se eu era realmente especial. Não me senti surpresa em ver que ele nutria afeto pelos mais diferentes tipos de figuras, mas isso não o deixou menos encantador, pelo contrário. Deveria ter sido assim, afinal, de que adianta não ser única na vida de alguém?
Mas ele não é alguém.
Ele é o Leão.
E em nenhum momento, disse ser meu. E eu entendi.
Não iria afastar o Leão de mim.
Queria ele me rondando, me cercando.
Ter ele por perto, me faz sentir bem.
Nós falávamos de amor, embora não nos amando, falamos de amor.
Fazíamos o amor.
Vivemos o amor através de letras de canções e, em uma delas, me senti sendo coberta por ele, aquela Juba imensa, mesmo que ele nunca tenha mencionado nada a respeito.
É que eu sinto-me Leoa, só em pensar nele.
Somente em pensar em uma poesia que um dia alguém escreveu, se referindo a um encontro inesquecível entre dois corpos, inventamos uma forma de nos bastar. “Quente”, dizia um dos versos. Calor é o que eu senti.
Calor é o que eu sinto toda vez que lembro do Leão.
Fico pensando como seria se ele fosse um homem, perto de mim, apenas mulher, leoa, como seria. Mas, fujo dos meus pensamentos, com medo de arriscar perder essa magia.
Ele me elogia, o Leão.
Gosta de como eu falo de amor. Diz que eu sou emocional. Me trouxe antídotos quando me viu sofrer por amor. Ás vezes penso que só a presença do seu “existir”, já me é antídoto.
E todas as palavras que trocamos.
E todas as provocações que fizemos.
Seríamos bons amantes, talvez,
por hora, bons amigos.
Até o dia, quem sabe, que o Leão bata de fato à minha porta
numa tarde de sol de quinta-feira,
com sua ameaçadora Juba, e num rugido de ordem, me leve a qualquer lugar.
Eu deixaria o Leão me levar.
Eu deixaria o Leão me cobrir.
E ele nem precisaria pedir.




Para aquele que um dia talvez suma, mas por hora, sempre presente.
Bri, whenever I may find you, here's something for you.
Just... don't be scared!














Um rascunho sobre um vazio.

Hoje eu quero dar um tempo no enfadonho, pra falar tão somente do vazio.
Será possível?
Será leve o vazio?
O vazio que nada preenche, o vazio que parece que vai nos engolir a ponto de nós não podermos mais, simplesmente, viver. Ou simplesmente aquele vazio que apenas ninguém preenche. O vazio que nos faz perceber que, de vez em quando, nos basta um maço de dinheiro, outro de cigarros e um tanto de coragem, aquela velha sensação de se bastar. E também aquele vazio de coisas e pessoas específicas, ah, esse é o que mais incomoda. Eu, sinceramente, gostaria de não ter que me prender nesse último, mas infelizmente, é justamente dele que eu quero falar.
Sempre tive a impressão de que as pessoas se afastam de mim – as queridas, principalmente – pelo meu jeito nada simplório e extremamente peculiar de vivenciar minhas sensações vividas. Com um certo peso, eu diria assumidamente. Algumas pessoas acham isso um problema, as conversas se tornam enfadonhas, acho que minha veia dramática colabora bastante para esse fato. Eu me acho um ser humano espetacular, devo admitir. Por isso quero que tudo meu para a posteridade seja inesquecível. E isso é uma cilada.
Um belo dia você se vê precisando de alguém que dê, tão somente, atenção às suas bobagens corriqueiras que só você acha geniais. E aí, ao olhar pros lados, vê ninguém. Pega os telefones mas não sente coragem de ligar, somente porque não há nada de tão interessante assim pra falar, ou então porque você mesma(o) disseminou a ideia de que odeia falar ao telefone. Juntando outras pecinhas coadjuvantes, se dá conta de que está cercado por um mundo maravilhoso que você mesma(o) criou, maravilhoso, porém, vazio. É como eu me sinto nesse momento.
Dediquei a maior parte do meu tempo a fazer as coisas do meu jeito: estudar do meu jeito, trabalhar do meu jeito, cozinhar do meu jeito, amar (e demonstrar amor) do meu jeito até que um dia eu percebi que o meu jeito só fazia sentido pra mim até um certo ponto. Meu mundo maravilhoso só me apetecia até certo ponto. Funciona mais ou menos dessa forma: eu hoje, gostaria de estar escrevendo um texto bonito que falasse de amor, para um amigo meu, ou sei lá. Mas cá estou eu, reclamando da minha vida, novamente. E é uma ciranda cirandinha viciosa, que pode levar a acomodação.
Se bem que, algumas pessoas dariam tudo para estarem acomodadas nesse momento. Vejo amigos se lamentando por não ter um colo para deitar numa noite de quarta-feira chuvosa, enquanto eu queria jogar um tanto de conversa fora com um estranho na rua, contar algumas mentiras ou não, ser interessante para alguém desconhecido, brincar de conquistar corações e largar o jogo pela metade; quando na verdade eu poderia estar deitada em um colo, numa noite de quarta-feira chuvosa, tudo que muitas pessoas que eu conheço dariam metade de si para ter. Mas eu sou feita de pedaços de insatisfação ou, como eu gosto mais de acreditar, o êxtase da minha vida ainda não chegou, simplesmente por não ter realizado ainda nenhum sonho meu. Em que acreditar, afinal?
Vou abandonar esse texto e escrever o que eu prometi. Acho que é o lúcido, no momento.

7.1.11

Insustentável...

Sensação de missão cumprida, mas falta alguma coisa. Um desfecho. Estou sofrendo, bem verdade, sofro como qualquer ser humano sofre ao saber que somente ama, e sem contrapartidas. Ao saber que não sabe amar! Que acreditou em palavras vãs durante um bom tempo, e que possui um sentimento fincado em nada, senão no vento, no tempo / espaço.

Durante alguns poucos anos me dediquei a uma vida dividida que não era compartilhada, pois só eu entregava e não recebia nada em troca além de críticas, brigas, confusões, acusações. Hoje acordei com meu coração murcho. Cansado, querendo fazer tão apenas o trabalho dele, de bombear sangue e acabou. E é assim que meu corpo se sente: cansado, como quem segue aquele lema de "missão dada é missão cumprida", não importa o desfecho da mesma.

Minha vontade hoje era bem piegas, só aquela de ir pra bem longe e ver coisas tão lindas que me fizessem esquecer tudo que passei. E ter outras lembranças que tornassem as minhas de hoje menos dolorosas, e não chorar mais, acima de tudo. Porque o que está feito, está feito e me orgulho, porque fui eu quem fiz, ainda dando a intenção ao outro lado de que está tudo bem, não estando. Quer dizer, está tudo bem, eu estou bem, eu estou acima de tudo orgulhosa de mim mesma, orgulhosa em saber que aquela coisa incondicional, indesatável, era mais um capricho meu do que uma verdade verdadeira. E aí, é como se desentranhasse da parede da minha alma, se deslocasse, esse peso, e me deixasse mais leve, embora não tão feliz como gostaria mas felizmente, mais leve. É a receita do tempo, que cura e que apaga todas as coisas. No fundo eu sabia que seria desse jeito assim, classudo, social, civilizado, com pinceladas de lágrimas e uma pitada de dor, mas sem aquele desespero, aquela ânsia, que estraga tudo.

Mas, que desfecho dar? Devo continuar, esperando que dessa vez seja pelo menos mais sincero, mais claro, mais leve; ou devo seguir meu caminho, voltar aos meus planos brilhantes, mirabolantes e a minha autosuficiente solidão? Estou em dúvidas, porque eu não gostaria de estar mais sozinha, talvez porque tenha estado durante tanto tempo e até hoje estou, uma sozinha bem acompanhada.

Um livro começa a ser escrito a partir de uma pergunta, penso eu. Um "porquê", um questionamento interno, uma dúvida, que o escritor se aproveita dela, tece uma narrativa e cria pra si o final ideal. A vida como gostaria que ela fosse, não como ela é. Felizes os escritores, disso eu sempre soube, possuem um mundo só deles e sabem, acima de tudo, amar, amar o amor somente, podendo ele ser uma pessoa, um bicho ou uma garrafa de uísque... "Porquês" eu já tenho aos montes, talento eu já não garanto tanto, mas posso me aventurar em meu mundo e criar meus finais... Será?