13.12.10

É hora.

Em meio de um esplendor de lembranças boas e de lama da realidade, é chegada a hora da transformação, da mutação, o despertar da coragem mesmo em meio a tanto gelo. É hora de traduzir-se e aceitar a verdade já aceita, é hora da bravura tomar conta e fazer a fama, como já dantes feito. É hora de interagir com os erros, quem sabe errar de novo, quem sabe glorificar-se, é hora de se amar. É hora de se aceitar, de voltar a ser quem é, de jogar fora a atuação, é hora de falar o coração, dar vida a emoção.
É hora de parar de sonhar, de idealizar, de pensar.
Somente impetuosamente, irracionalmente, ser.


É hora de despertar o leão.

20.11.10

Memórias em dó maior.

Sabadaço. Eu e minha gata, ela ainda melhor que eu, porque está dormindo e eu não possuo planos recentes para isso. Namorado viajando, a uma hora dessas em coma alcoólico, mas nem estou ligando muito. Juro ter querido entrar numa sala de bate papo, mas só de ver aquelas criaturas medindo o tamanho do pau, me tirou todo o tesão. Não que eu quisesse nada, não posso nem pensar em ousadia, porque estou tratando uma crise de candidíase (calma, sou limpinha, eu tenho problema metabólico, quando estou com a imunidade baixa essas coisas aparecem). Ou seja, tou na merda total. Deprê. Quando eu ia entrar no orkut da minha gata, lembrei que eu tinha feito aquele email para alguma traquinagem, e voilá! quão doce surpresa me pôs um sorriso na cara, mesmo depois de tantos desmaios hoje... E que me prova mais do que nunca que preciso de uma transfusão de juízo.

Há 3 anos atrás, me apaixonei perdidamente por um homem. Mais velho, muito mais velho.

Pensava neste homem dia e noite e vice versa. Doentio. Imaginava que ele largaria a esposa (se tivesse, até hoje eu não sei) por minha causa. Que tocaria violão pelado para mim. Que era tão doido por mim (até hoje acho que ele teve lá suas quedinhas, kkk) quanto eu era (oi?) por ele. Juro a você, querido leitor, que só ia pra faculdade na expectativa de vê-lo, gastava dinheiros vários com almoço podendo comer em casa. Só, somente só, para vê-lo.

Mas qual é o propósito dessa verborréia toda? Lembrei do motivo para ter feito o email fake. Para mandar um email para ele, vide eu não suportar mais a pressão daquela paixonite. E fiz. A senha do email é o nome dele, e o login leva Eurídice, a mulher de orfeu, deus da música, nada mais apropriado, afinal a ocasião necessitava uma generosa dosagem de lirismo. Resumindo, mandei. E foram dois:

19/11/2007
Minueto...

..ou de repente... um 'allegro'... quem sabe um 'requiem'... mas é simples como um minueto mesmo. Nem sei o que estou falando direito, não entendo de música erudita tanto quanto pessoalmente admiro, nem estou tentando impressionar (que paradoxo seria tentar impressionar com algo que não se sabe bem...), mas, direto ao ponto. Simples, como um minueto...

Olá, L. ...

...até hoje encontro-me hipnotizada pelos seus olhos. Não só por eles, mas pelo conjunto do olhar. Estive ao alcance do fitar deles dias atrás, e até hoje estou hipnotizada. Acho que é só.

Eu precisava encontrar um meio de te dizer isso. Infelizmente, só encontrei o seu email institucional... enfim.

Resposta? Não, óbvio. Mandei, louca, pro email institucional, pro email de trabalho... Além de ser 30 anos mais velho, poderia me doar um pouquinho de juízo. Mas claro, leonina que sou, não desisto até tomar uma pelo meio da fuça. Então, pois, mandei outro que, advinha, também nao obtive resposta. Não entendo como essas palavras conseguem brotar em mim, a única coisa que posso dizer com certeza é que não lembrava de nada que estava escrito nessas mensagens. A que vem a seguir me emocionou; só a pessoa sendo um bloco de gesso para não procurar saber quem foi a louca apaixonada que escreveu tão doces palavras... ok, não há espaço para vaidade agora...


18/12/2007

Nesse fim de ano, gostaria apenas de felicitar-lhe, de te desejar tudo de belo.
é apenas mais um ano que se finda, para mim o primeiro de tantos em que me lembrarei sempre que soarem as doze badaladas do brilho de um certo olhar que encontrei para mim em um novembro qualquer. E ao qual ponho-me, e sempre, a contemplar apenas, e com resignada distância... Não quero que o encanto se perca. Foi um prazer encontrar (e reencontrar) você.

Saúde e paz, ademais, corremos atrás.

Saudações,
E.

Emocionante. Repararm o detalhe da assinatura? E., de Eurídice. Juro que me emocionei quando li, eu tinha perdido até a noção do quanto eu era apaixonada por ele. Os olhos dele, negros, da cor do seu cabelo, contrastando com a pele branca, não que eu goste de homem branquelo, mas ele parece um boneco. Ai como eu queria (oi?) ele para mim. Jurava que ia fazer dele o homem mais feliz do mundo.

O tempo foi passando e fomos nos encontrando com mais frequência pelos corredores da faculdade, trocávamos algumas palavras, sentia sempre que ele estava um tanto sem graça perto de mim, ficava vermelhinho... e eu, mais sem graça ainda, porque era totalmente apaixonada, mas dados os fatos, precisava sim me resignar. Talvez eu quisesse viver alguma aventura diferente também, emocionante, platônica, não sei. Sei que hoje eu estou em uma relação estável, mas só de lembrar da alegria que eu sentia em saber que ele existia ou poderia estar por perto, me dá vontade de girar o disco ao contrário e, quem sabe talvez, ter aproveitado melhor alguma oportunidade de abertura, de diálogo, de me confessar. Porque essa aventura era certa, no meu coração e na cabeça de pessoas que puderam vivenciar comigo essa situação.

Até hoje ainda fico pensando se ele lembra de mim, se ele realmente sentiu alguma coisa ou se sentia somente que eu realmente era apaixonada por ele. Posso ter passado isso, mas duvido muito. As minhas amigas sabem que eu consigo guardar paixões como numa caixa de pandora, coisas que eu tenho certeza que morrerão comigo. Bom, tenho que confessar que, embora eu esteja em outra fase da minha vida, ainda tenho o coração aberto, porque penso que a paixão que se sente na hora é melhor do que aquela que contruímos com o tempo, que edificamos; também por eu ser um ser humano que vive no limite da razão ou, arrisco dizer, muitas vezes além dele. Por isso, ao tempo que faço contas para o aluguel e penso num trabalho melhor pra poder constituir minha família, a que eu construí, momentos como esse que eu vivo agora, de introspecção e total afinidade entre meu corpo e minha alma, lembrar daqueles olhos negros brilhando, procurando os meus em uma platéia com bem mais que 100 pessoas, me fazem lembrar que a vida pode valer a pena. E se dizem que o amor nunca morre, pois é, eu ainda estou aqui, me sentindo melhor numa noite solitária de sábado, com o meu olhar fixo numa lembrança em meu pensamento. Ele, minha lembrança, a mais doce das lembranças. Foi uma época maravilhosa, disso tenho certeza.



" - Oi.
- Oi...
- Como você chama?
- Marta...
- (risos)
- Você é da Facom, não é?
- Sou...
- hmmmm...
- Prazer, Marta. Me chamo L.
- Prazer, L. Agora já nos conhecemos.
(...)"

 
Dedicado a Leo, a nossos sussurros e a nossos contatos epidérmicos, todos sempre passeando pelos meus sonhos...

29.7.10

Uma carta.


Eu juro que não queria fazer isso. Eu queria seguir seu  conselho e não te procurar mais. Mas eu não consigo, não reconhecendo que o erro foi meu, não, essa não sou eu.

Na verdade, o lance é bem simples. Eu não estou esperando que você me procure, sinceramente, imagino a raiva que você está sentindo de mim. Nem estou aqui pra pedir “por favor, volte”, não, também não. Eu só quero que na minha passagem eu tenha pelo menos paz de espírito, afinal, é mais um ano de vida que completo. E paz é a única coisa que não consigo ter agora.

Não estou afim de desabafar, explicar, ou me desabar em lágrimas e promessas como das outras vezes. O que aconteceu, aconteceu, “o que passou, calou”, como você costuma me dizer sempre que acontece esse tipo de coisa. Para você é fácil depurar, pois está com raiva; Mas eu estou angustiada, e essa angústia está atrapalhando alguns processos em minha saúde, como insônia, taquicardia, vômitos e a menstruação que não desce há 3 dias. Também não estou pedindo para que você se preocupe comigo, eu só estou obedecendo um instinto meu de defesa, e querer estar a par da situação não é de todo ruim, não acho que seja. Só peço que você seja verdadeiro conosco, e isso eu não te peço como namorada, ou como alguém que te ama, mas apenas como ser humano.

Lembro que você me pediu para ter dignidade. Essa é a forma que eu sei ser digna e mostrar meu amor próprio. Se eu disser que vai ficar tudo ótimo sem ter você nesse momento, eu estarei mentindo amargamente e para mim mesma. Não por causa de festa nem de presentes, nós dois sabemos que meu desânimo para qualquer comemoração não vem de agora. Só queria que você me dissesse se irá ficar tudo bem, se não vai. Respeitarei o seu tempo, isso está óbvio.

Seu livro está aqui, no mesmo lugar que deixei. A cabeça quente não deixou que eu o visse. E o HD foi sem o cabo, que está aqui também. Também estão suas duas calças sociais e as gravatas, além da camisa azul. Se precisar de algum desses para amanhã, posso levar sem problemas aí em sua casa. Ou você pode vir buscar, tanto faz.


Continuo, inexplicavelmente, te querendo como da primeira vez que te vi.
Att.,
M.

17.7.10

Oh, Insensato Coração!

Tenho andado sumida e um tanto confusa. Um decorrente do outro, inclusive.
A minha confusão tem gerado reações somáticas de cunho angustiante. Não durmo, não faço nada. Digo, faço sim. Trabalho para esquecer. Sempre olhando para os lados.
Daria alguns dólares para imaginar o que se passa em meu coração. No mesmo momento que treme de amor, ronca de ódio e pede mudanças. Mas basta uma única lembrança boa, ou um gesto de ternura em meio à fuligem que ele volta a bater compassado em lento, calmo, o que os românticos chamam de "coração de quem ama". Mas o corpo pede bis daquela adrenalina de quem inicia uma linda e inesquecível (nova) história.
Lidar com as pessoas, na verdade, não deveria significar necessariamente lidar com os problemas das pessoas. Você pede antes de dormir durante anos o devir de um sonho, o sonho de ter alguém que se cuide e ser cuidado. Só que esse alguém, como um filho ou um cachorro, não vem com certificado de Garantia na testa, então... não há garantia nenhuma, somente o sonho. Não mais que de repente, o indivíduo se enxerga engolindo todos os sapos do Universo em nome do tão sonhado, invejado e, literalmente, caçado, amor. E um belo dia se vê cansado de guerra, quando olha para o lado e o que passaria despercebido de repente se torna interessante. É como um sinal Divino dizendo que é melhor rever, porque não vai tudo tão bem assim.
Estou passando por essa fase, uma fase onde a razão e a emoção se misturam como água e suco em pó. Percebe-se a artificialidade, mas é doce a impressão de transgredir e trocar a maçã por um saquinho colorido. E existe sempre os grãozinhos no fundo do copo para não fazer esquecer que é artificial. Que é uma fase, talvez, porque não há quem abra mão de um sentimento, salvo quando ele não mais existe, o que não é raro e não é o caso, caso contrário, não vacilaria nem angustiaria tanto minha alma por uma tentação, simplesmente me deixaria levar na leviandade.
Pode ser a aurora de um novo tempo. Ou, como diz o poeta, "porque de amor, para entender, é preciso amar". E nessa matéria sinto que não completei ainda nem o fundamental.










(Na verdade, o título deveria ser uma alusão a outra música imortalizada na voz de Gal que diz "Meu coração vagabundo quer guardar o mundo em mim").

9.2.10

A gentil arte da desistência

Normalmente, quando fazemos as nossas preces, pedimos força. Força para ir em frente, força para superar obstáculos, alcançar objetivos.
Hoje eu me peguei rezando para obter forças para desistir.
Paradoxo? O que eu quis dizer, principalmente para mim mesma, é que não é hora de ser forte. Calma, isso não é mais um instinto suicida ou tem a ver com se fazer ausente. Digo, desistir de algo que já não te acrescenta mais em nada, senão na dor, na preocupação, na inquietude, mas que já é tão seu que é difícil abrir mão. Como aquela calça jeans surrada da Lee que não te serve mais como servia há 10 anos atrás, mas você insiste em tê-la no guarda-roupa ou pior, no couro. Como um pote de sorvete Kibon que você insiste em guardar mesmo tendo 65456 iguais a ele e que você não usa.
Dar murros em ponta de faca não é uma sensação muito agradável. Fazer com que o andamento das situações compreenda sem muita força o que se sente no momento, também não. Há quem diga que não se deve interferir na fluência, no vai e vem do mundo, mas se essa teoria estiver correta, não há necessidade de se viver cercado de pessoas e ideais e crenças e algo mais que valha. Mostrar o que é importante, mostrar o que acontece, como se sente, o curso da vida, os sentimentos - seja quais forem, é intrinsecamente humano e talvez por isso, um tanto necessário. E dito isso, eu entro no ponto que eu queria.
Vou desistir porque cansei de esperar que tudo mude por eu achar estar sempre fazendo as coisas certas, as escolhas certas, por mais que fatores externos tentem me dissuadir dos meus objetivos. Na verdade, quero desistir dos fatores externos que tentam me dissuadir. Fazendo um retrospecto, na época em que eu estava na míngua, eu era bem mais produtiva, intelectualmente falando. Eu tinha até as unhas mais bem feitas que hoje, embora estivesse mais de 2 dúzias de quilos mais gorda. E eu que achava que aquela era a época mais desgraçada da minha vida, hoje, cercada de tudo e de todos, começo a duvidar disso.
Vou desistir porque gasto tempo, afeto, dedicação e nada do que é explicitamente certo em uma visão generalizada, insiste em dar certo para mim. Não gosto de aguentar nem dor de cabeça. Estou tomando anticoncepcional para suspender a minha menstruação até passar o carnaval, porque só de pensar na combinação xixi+banheiro público, sinto náusea. Detesto sofrer, seja uma decepção, ou uma dor de barriga. Me entupo de remédio para fazer passar. Ou seja, não sou masoquista, detesto sofrimento, privação de prazer. Mas, sem saber por quê nem como, estou nessa. Então, eu desisto.
São 2 da manhã, e eu insisto em não parar de chorar. É claro, há muita coisa errada. E se eu pudesse dar um nome a essa coisa errada, aqui, eu juro, desistiria na frente de todos. Mas, desistir é uma ciência, e eu peço paciência e força. Apesar de ser uma palavra um tanto pesada e cheia de sobrecarga emocional, às vezes, desistir é preciso tanto quanto viver. E embora eu diga que eu preciso de fraqueza, acho que a desistência é uma tarefa que exige muita força. Vou continuar rezando, enquanto não contrario meu ego. Porque fraqueza seria voltar atrás. De novo.

28.1.10

Por novas teorias.

Simplesmente por não saber como agir ou o que pensar, justamente por não mais poder prever nem prevenir o amanhã. Novas teorias para que eu possa novamente simplesmente mesmo em meio à minha tristeza sem fim saber que existe a possibilidade do dia acabar normal do mesmo jeito que começou, e não com esse gosto de dúvida. Novas teorias que me façam compreender o valor que tenho e o valor que você tem. Que me faça compreender o porquê de tudo isso. Que me façam compreender o que foi que eu fiz. Que me façam compreender a nossa culpa. Que, dentre outras coisas, me façam compreender finalmente que daqui pra frente nada mais será do jeito que eu quis ou imaginei, mas que é do jeito que deve ser. Que me façam compreender o silêncio e as milhões de coisas que são ditas nele. Como eu odeio o silêncio, e como eu nunca mais eu deixarei que ele me interpele. Outras teorias que venham a me convencer de que não é tarde demais. E que me convençam de que dias melhores virão. E que me convençam de que minha angústia não é para sempre. E que me convençam de que sua dor passará. E que me convençam de que as madrugadas voltarão a ser pequenas para nós dois, e que nunca mais faltarão palavras. Novas teorias que sejam capazes de me provar que você pode fazer sim de mim uma pessoa melhor. Ou que você já fez de mim uma pessoa melhor pelo simples fato de estar presente de alguma forma dentro de mim. Teorias que te convençam de tudo isso que quero que me convençam e de muito mais, muito mais mesmo. Que me convençam, mesmo que eu tenha certeza plena e absoluta, de que é para sempre.



Para T., sou muito grata pela felicidade que me proporcionou e proporciona até hoje.
Texto de 28/05/2007

Impressões.

Sempre fui meio errante. Acho interessante essa liberdade de fazer as coisas somente quando sinto vontade. E isso se estende a escrever, se refere a contar detalhes de minha vida, eu sempre protelo, deixo para depois. Mas isso tem motivo, claro, tudo tem um. Nem tudo muda, portanto, não existe necessidade latente, a não ser que aconteça. Não, isso não quer dizer que aconteceu. Quer dizer, aconteceu, enfim. Estou a remexer os baús do passado e vejo o qual incrível é capacidade que eu tenho de chorar pelo que passou. Passou como a uva-passa, literalmente, machucadinha, cheia de ruguinhas. Mesmo assim me vieram lembranças agradáveis de momentos que eu deveria esquecer. E incrível, sinto-me confortável. Aquele almejado conforto de quem aprende com o tempo, não que ele ensine, nem que ele cure. O papel do tempo é diminuir a dimensão das coisas, e isso vale pra tudo, e sinto que a dimensão foi diminuída, de fato. Hoje lembro com ternura do que foi meu pesadelo. Se eu for seguir a risca meu raciocínio, é breve que eu tema. Um dia posso estar mergulhada em meu pesadelo de novo.

11.1.10

Carta de amor, ridícula.

Me dê o endereço de quem plantou na sua cabeça que está tudo errado.
Eu juro que vou lá, e faço essa pessoa engolir uma por uma as vírgulas do que disse.
Empurro goela abaixo cada verbo, cada adjunto, e a cada frase sem sentido
que eu encontrar no falar dela, piso no peito seu pé com salto 15, e se ela
não estiver satisfeita com a dor, sentirá o calor das agulhas quentes embaixo da sua unha.
Porque, meu amor, nada há de ser errado, e até o que for errado, um dia vai se acertar
Porque tudo nasceu certo, tão certo quanto o sorriso que você vai esboçar quando ler essas linhas,
por mais que eu tente escondê-las, por zelo ou vergonha.
Tudo está tão certo, e a prova é que meu coração gela com cada despedida, cada dia
cada minuto que eu quase esqueço das marcas do seu rosto, ou das suas cuecas em minha gaveta
e até do barulho peculiar do seu carro.
Até o que está errado, vai se acertar, no dia em que cada canção que fizemos fizer sentido para tantos outros casais, mais até que nós dois;
no dia que a distância entre nós diminua até poucos centímetros de uma mão para outra, em cima de um lençol de algodão.
Se tudo entre nós está errado, eu não teria tanto amor. E você, certamente, não teria mais a mim.
Está tudo certo. Esse é o nosso caminho, e embora a felicidade esteja um tanto egoísta,
eu não deixo você por nada, embora reste a mim pouca coisa a fazer e a dizer.

10.1.10

Coragem.

Ela tinha resolvido ir para aquele lugar que tanto gostava. Nada de especial, somente algo de fresco no coração, que pedia que ela simplesmente fosse. E assim, foi. Mas só de pisar naquela grama, de tocar aquela areia, seu coração se enchia de uma alegria contagiante, a qual só quem realmente viu sua resplandescência poderia afirmar com certeza. Ela, no fundo, sabia que algo muito especial ia acontecer, no momento em que aquela voz querida e amiga surgisse no ar, como quem conta uma boa nova. Sabia que quando ouvisse essa voz, o mundo se abriria em cores, sabores e novas caras, e que aquele lugar sempre traria a certeza de que todas as coisas sonhadas, desejadas e queridas não eram apenas loucuras como julgadas pela maioria daqueles que ela julgava também queridos, mas eram sim a certeza de que ela não precisava ir muito longe para sentir seu coração pulsar forte e sua voz sair límpida como a de um anjo, ao som de uma viola qualquer fora do tom; que essa coisa tão desejada, chamada alegria, funciona exatamente como ela imagina. Funciona quando ela se permite a sair da tacanhez da sua vida, simplesmente se deixando ir, esquecendo muitas vezes até da razão, fazendo somente das batidas no interior de seu peito os compassos do seu passo. E quando ela se sente assim, é certeza: a última coisa na qual ela pensa é em voltar.

5.1.10

A Outra Face

E agora o ano chegou, e eu só me sinto cansada e meio ressaqueada de tudo. Pois eu acabo de perceber que as mesmas coisas que me incomodavam antes, me incomodam até agora. E eu continuo sendo a mesma boboca frágil, que é bem miserável, mas só na garganta. Hoje eu ouvi que eu não sabia nem por que eu ria, quanto mais por que eu chorava. Creio que tenham me dito isso por não ter o que dizer, e porque estava com raiva de mim (o que não justifica), mas eu sei que não é verdade. Sei por que eu choro, sempre sei. Posso não saber dizer com palavras, pelo menos não aquelas que são certas, mas se eu choro, é porque é preciso. E se eu rio, é porque é engraçado e me faz bem! Por que será que ele tenta me convencer tanto de que eu sou louca, desequilibrada, preciso de remédios, e etc.? Preciso de paz, isso sim. Por isso vou para a praia, acordar cedo, sentir o bafo da maré e, quem sabe, fazer algumas amizades, que refresquem a natureza do meu ser. Fui.

Feliz Ano Velho

Coisa péssima essa expectativa de um Ano Novo. Roupa nova, sapato novo, calcinha nova, um monte de dividas, tudo isso pra passar a virada do ano deitada em um tanto de edredons empilhados, fingindo serem uma cama, dopada de remédio pra cardiopatia.
Tudo isso começou porque eu mandei fazer um lindo vestido pra passar o fim de ano. E quando estava na costureira, descobri que o vestido estava um tanto... justo. Advinha? Dieta líquida durante 3 dias seguidos, shakes para emagrecer e muita folha no almoço. Acontece que eu sou uma pessoa um tanto doente, com problemas metabólicos, e esse coquetel molotov de coisas sem o mínimo de substância me causou um problemão. No momento em que eu coloquei a primeira garfada de substância no organismo, a pressão subiu, o coração acelerou e eu tive que me deitar, tomar meu remédio e esquecer das várias garrafas de sidra que eu havia comprado para brindar o novo ano. Resultado: passei o ano novo praticamente de cama, e ainda tive que ouvir do meu namorado se ele podia me deixar na cama pra sair com os amigos e curtir a festa na cidade ao lado.
Por isso que eu odeio essa expectativa, ou, pelo menos, passei a odiar. Foi como se as coisas continuassem da mesma forma que sempre, sem rituais, sem pessoas legais, só um chão de concreto duro e sensação de desmaio, mesmo estando em um lindo vestido de seda azul. Comecei o ano com o pé esquerdo. Tomara que ele não termine assim também, porque chego a tremer só de pensar que ele só está começando...