28.4.11

Madrugadas Criativas

É sol, é mar, é calor. Na verdade, é madrugada. Sinto o calor das costas largas dele em minhas costas e penso que, finalmente, há de ficar tudo bem, porque naquele calor, misturado ao frio de um ventilador velho e um peculiar odor de repelente, pude sentir novamente aquele amor, aquele amor que um dia me levou a sonhar como num sussurro adolescente.
É madrugada e eu penso que esse calor é na verdade uma das mais deliciosas sensações do universo. Às vezes sinto vontade de acordá-lo pra que possamos brincar em meio a tudo isso, mas adoro vê-lo dormir nessa paz. Penso em me encostar mas, se eu incomodar, ele pode mudar de posição e eu não mais sentir essa sensação gostosa. Fico igual a uma boba, admirando seu sono de urso, com vontade de me jogar por completo, mas impedida por um certo cansaço de coisas boas, que me faz respeitar e querer ser respeitada em meu ostracismo. Bobagem, gostoso mesmo é admirar e sentir e é o que eu escolhi fazer agora.
É madrugada e tudo que eu mais quero é que o dia não amanheça, aproximando de nós o dia de ir embora dessa paz. Tão poucos dias suficientes para sanar todas as dúvidas que eu tinha em meu coração, suficientes para fazer-me sentir calma tão somente pela proximidade das costas largas dele, o homem que eu amo, me trazendo calor e refúgio numa madrugada qualquer de domingo. Ah, se todas as minhas madrugadas fossem assim, refugiosas, sãs, e com ele. Pra que pensar no futuro, se o gostoso é viver o agora? Se eu pudesse, não sairíamos mais daqui, traríamos nossos paninhos de bunda e nossos vinhos, e ficaríamos aqui, olhando um pro outro e falando da nossa vida e da dos outros. Minha paz, minha voz! Nós, nossos amigos, sem mais medos, sem mais ciúmes, só a nossa paz. Ah, se Deus me ouvisse agora, me ouve, Deus. Livra-nos do mal.
Ouço um sorriso em meio ao seu sono e penso que ele poderia estar sonhando com algo bom. Peço para que seja comigo, diminuindo minha injustiça, de estar ali acordada e devota enquanto ele se entrega ao profundo sono. Depois deixo o ciúme pra lá, ele se vira e me abraça, aí, o mundo pode acabar.
É madrugada e eu tenho o homem que eu amo a me abraçar.



Itaparica/Praia de Coroa
Domingo de Páscoa, 24/04/2011

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