4.4.11

Um rascunho sobre um vazio.

Hoje eu quero dar um tempo no enfadonho, pra falar tão somente do vazio.
Será possível?
Será leve o vazio?
O vazio que nada preenche, o vazio que parece que vai nos engolir a ponto de nós não podermos mais, simplesmente, viver. Ou simplesmente aquele vazio que apenas ninguém preenche. O vazio que nos faz perceber que, de vez em quando, nos basta um maço de dinheiro, outro de cigarros e um tanto de coragem, aquela velha sensação de se bastar. E também aquele vazio de coisas e pessoas específicas, ah, esse é o que mais incomoda. Eu, sinceramente, gostaria de não ter que me prender nesse último, mas infelizmente, é justamente dele que eu quero falar.
Sempre tive a impressão de que as pessoas se afastam de mim – as queridas, principalmente – pelo meu jeito nada simplório e extremamente peculiar de vivenciar minhas sensações vividas. Com um certo peso, eu diria assumidamente. Algumas pessoas acham isso um problema, as conversas se tornam enfadonhas, acho que minha veia dramática colabora bastante para esse fato. Eu me acho um ser humano espetacular, devo admitir. Por isso quero que tudo meu para a posteridade seja inesquecível. E isso é uma cilada.
Um belo dia você se vê precisando de alguém que dê, tão somente, atenção às suas bobagens corriqueiras que só você acha geniais. E aí, ao olhar pros lados, vê ninguém. Pega os telefones mas não sente coragem de ligar, somente porque não há nada de tão interessante assim pra falar, ou então porque você mesma(o) disseminou a ideia de que odeia falar ao telefone. Juntando outras pecinhas coadjuvantes, se dá conta de que está cercado por um mundo maravilhoso que você mesma(o) criou, maravilhoso, porém, vazio. É como eu me sinto nesse momento.
Dediquei a maior parte do meu tempo a fazer as coisas do meu jeito: estudar do meu jeito, trabalhar do meu jeito, cozinhar do meu jeito, amar (e demonstrar amor) do meu jeito até que um dia eu percebi que o meu jeito só fazia sentido pra mim até um certo ponto. Meu mundo maravilhoso só me apetecia até certo ponto. Funciona mais ou menos dessa forma: eu hoje, gostaria de estar escrevendo um texto bonito que falasse de amor, para um amigo meu, ou sei lá. Mas cá estou eu, reclamando da minha vida, novamente. E é uma ciranda cirandinha viciosa, que pode levar a acomodação.
Se bem que, algumas pessoas dariam tudo para estarem acomodadas nesse momento. Vejo amigos se lamentando por não ter um colo para deitar numa noite de quarta-feira chuvosa, enquanto eu queria jogar um tanto de conversa fora com um estranho na rua, contar algumas mentiras ou não, ser interessante para alguém desconhecido, brincar de conquistar corações e largar o jogo pela metade; quando na verdade eu poderia estar deitada em um colo, numa noite de quarta-feira chuvosa, tudo que muitas pessoas que eu conheço dariam metade de si para ter. Mas eu sou feita de pedaços de insatisfação ou, como eu gosto mais de acreditar, o êxtase da minha vida ainda não chegou, simplesmente por não ter realizado ainda nenhum sonho meu. Em que acreditar, afinal?
Vou abandonar esse texto e escrever o que eu prometi. Acho que é o lúcido, no momento.

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