4.4.11

O Leão.

De vez em quando, um Leão bate à minha porta.
Lembro-me com clareza da primeira vez que ele veio. Uma juba, imensa, espetacular, linda e extremamente ameaçadora. Além da juba, palavras que fariam de qualquer mulher, uma leoa. Sim, esse leão fala, fala encantadoramente, fala como se quisesse levar-te cega para um mundo que é o dele, um mundo desconhecido mas que você aceita o desafio e, se for puxada, vai, sem dar notícias de onde poderá ser encontrada.
Ele me abençoava e me falava de paz e de amor.
E ele me disse que queria conhecer meu mundo, a terra onde vivia e como eu vivia nela, pois ele vinha de um lugar distante...
Vinha falando a minha Língua com destreza.
Era doce...
Ameaçadoramente doce.
E eu...
Eu desconfiei do Leão.
Sempre desconfio de tudo.
Mas ele foi vindo. Sabia que eu era leoa.
Me tirava o ar só o pensar nele.
Profeta, ele se dizia.
Eu o chamava simplesmente de Leão.
Ele nunca quis saber muitos detalhes da minha vida.
Queria uma impressão geral da minha visão de mundo, a mim, bastava a ele que eu fosse somente uma pessoa boa.
O Leão, ao tempo em que queria me enfeitiçar para o mundo dele, me vinha com perguntas corriqueiras quando aparecia. Às vezes demorava a aparecer; de outras, vinha varias vezes por semana, muitas das quais eu deixei de atender à porta por estar atarefada em meio as minhas vicissitudes, mas sempre deixava o rastro da presença dele ali, bem perto, para que eu me lembrasse, e mandasse o sinal para que ele viesse trazer um pouco de mistério em minha vida.
Sempre funcionou.
E o mistério chegava no momento em que eu sempre precisava.
Um belo dia, olhei pela janela do Leão, numa dessas ironias da vida. Queria saber se eu era realmente especial. Não me senti surpresa em ver que ele nutria afeto pelos mais diferentes tipos de figuras, mas isso não o deixou menos encantador, pelo contrário. Deveria ter sido assim, afinal, de que adianta não ser única na vida de alguém?
Mas ele não é alguém.
Ele é o Leão.
E em nenhum momento, disse ser meu. E eu entendi.
Não iria afastar o Leão de mim.
Queria ele me rondando, me cercando.
Ter ele por perto, me faz sentir bem.
Nós falávamos de amor, embora não nos amando, falamos de amor.
Fazíamos o amor.
Vivemos o amor através de letras de canções e, em uma delas, me senti sendo coberta por ele, aquela Juba imensa, mesmo que ele nunca tenha mencionado nada a respeito.
É que eu sinto-me Leoa, só em pensar nele.
Somente em pensar em uma poesia que um dia alguém escreveu, se referindo a um encontro inesquecível entre dois corpos, inventamos uma forma de nos bastar. “Quente”, dizia um dos versos. Calor é o que eu senti.
Calor é o que eu sinto toda vez que lembro do Leão.
Fico pensando como seria se ele fosse um homem, perto de mim, apenas mulher, leoa, como seria. Mas, fujo dos meus pensamentos, com medo de arriscar perder essa magia.
Ele me elogia, o Leão.
Gosta de como eu falo de amor. Diz que eu sou emocional. Me trouxe antídotos quando me viu sofrer por amor. Ás vezes penso que só a presença do seu “existir”, já me é antídoto.
E todas as palavras que trocamos.
E todas as provocações que fizemos.
Seríamos bons amantes, talvez,
por hora, bons amigos.
Até o dia, quem sabe, que o Leão bata de fato à minha porta
numa tarde de sol de quinta-feira,
com sua ameaçadora Juba, e num rugido de ordem, me leve a qualquer lugar.
Eu deixaria o Leão me levar.
Eu deixaria o Leão me cobrir.
E ele nem precisaria pedir.




Para aquele que um dia talvez suma, mas por hora, sempre presente.
Bri, whenever I may find you, here's something for you.
Just... don't be scared!














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