18.12.09

Não é apenas mais uma de autopiedade.

É complicado acordar chorando.
É a prova de que aquela lorota que todo mundo conta, de “nada como um dia após o outro”, na prática, não passa de uma lorota mesmo. E você dorme pensando em sonhar com algo que te faça acordar um pouco melhor, mas ao invés de sonhar, você acorda a noite toda pra saber se você ainda sente muito. E descobre que sim, que é verdade, que ainda dói bastante, e que você vai acordar e vai continuar doendo. E que isso não tem nada a ver com autopiedade. É uma dor, não é uma dor física, mas é dor.
Apostei todas as minhas fichas numa ida ao supermercado hoje. Supermercado é um lugar ótimo para se ir quando não se está bem, principalmente se não for você o pagante da maldita conta. Mas aí, como tem sempre um espertinho que precisa mais de atenção que você, meu pai suspendeu as compras da ceia de natal para ajudar minha irmã histérica a resolver os problemas que ela não sabe resolver sozinha. E aqui estou eu, acordada desde as 7 da manhã, sentindo repugnância pela cesta de lixo que está cheia até a boca de papelões de presente e tufos de cabelo. Meu quarto está uma bagunça. Eu poderia até arrumá-lo, mas não faria diferença nenhuma nesse momento um quarto arrumado ou bagunçado, na verdade, queria era estar gastando energia com outra coisa.
Agora, depois que eu terminar de escrever esse texto, eu terei um dia inteiro sem nada pra fazer, e mesmo se eu arrumar o quarto, o que não vai me custar mais que alguns minutos, eu terei nada a fazer também. E vou continuar pensando nas coisas que me fizeram chorar. Por isso pensei: preciso desabafar. Se não tem quem me ajude, talvez escrevendo eu me sinta um pouco mais leve, desse peso do nada, a insustentável leveza do nada. 

Bem... como começar?


É, minha coragem é relativa. 

Acho que nunca conseguiria realizar um feito desse, até porque sou um tanto old-school. Desabafar para o mundo? Não sei se consigo. Gosto de escrever cartas, porque elas são ricas em detalhes que o diálogo muitas vezes oculta, porque ao ver a quem se dirige podemos esquecer, ou passar por cima. Sou uma adepta das cartas, não dos diálogos.
Deve ser para isso que servem os livros. Para aliviar o coração dos autores do peso que eles carregam na vida. Schopenhauer morreu sozinho cercado de Poodles, por exemplo. Marx também morreu sozinho. Clarice Lispector foi uma coitada, Cecília Meirelles também, Hilda Hilst também, Hemingway deu a sorte de um amor tranquilo, mas preferia os gatos às pessoas. Grandes escritores são coitados, que buscam nas palavras alívio para sua dor, e isso não tem nada com autopiedade. Bem como acordar chorando. Nada tem a ver com autopiedade. Nada.


(esse texto sofreu livre adaptação por mim mesma, por motivos de autosegurança).

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